Friday, December 13, 2013

Sem respirar

Vaguei pela noite de Lisboa,      a lua cheia ilumina meu corpo, meu caminho, mas não a minha alma.
Não consigo respirar, apoio-me nas paredes de velhas casas alfacinhas que outrora eram vividas pela pobre plebe.
Quero pedir ajudo, socorro auxilio, mas minha traqueia se encontra fechada, minhas amígdalas encheram toda a minha garganta, meu respirar está impedido, sinto-me zonza.
Imploro por ti minha mãe, suplico por ti meu paizinho, procuro-te minha amiga, preciso de ti minha prima. Amigo que a tanto não te vejo, sei que não me ouves senão vinhas. Preciso de ti pessoa boa que se acha má.
Preciso de vós, do vosso oxigénio, humanidade e pureza.
Há minha volta só estão demónios, fantasmas, servos de Lúcifer, de subordinados de Hades, futuros anhos caídos.
Preciso de ar, de respirar, de ar puro e livre de difamações, maldades, rancores e vinganças despropositadas, onde o Ius não existe, onde a Lex é mera cortesia maléfica que apenas anseia em derramar sangue. Onde a Auctoritas é confundida com Imperium, onde os que mandam não têm poder, apenas se mostram de forma inculta, desgovernada e barraqueira.
Onde o Português é constantemente assassinado, onde as palavras bonitas do nosso vocabulário desfalecem e perdem beleza. Onde as flores murcham, não por ausência de água, mas sim por veneno das palavras que são bruscamente debitadas, onde nem um pouco de requinte de malvadez se verifica. Onde já não há brio, nem mesmo nas facadas que se dá.
Os apunhalados são pelas costas, e mesmo sabendo quem foi, pois vêm na mão do assassina o punhal ensanguentado se nega tal acto.
À minha volta só à negro, a lua perde o seu brilho, se esconde com vergonha pela humanidade, as pessoas perdem sua fisionomia de Deus Grego, assemelham-se cada vez ao lobo de Hobbes, suas palavras tornam-se grunhidos, vomitam sobre as outras bestas, se riem como hienas, seus cascos não se assemelham a cavalos lusitanos, mas sim a cabritas que se alimentam nas serras rochosas.
Tento me livrar de tais bestas em meu redor, mas gritam cada vez mais alto, esvoaçam sobre mim, riem-se dos pobres e esfomeados, arrancam pedaços da terra só para pontapear.
Tapo meus ouvidos, fecho meus olhos com força, mas com tanta força que começam a sangrar. sinto-me a ser raspada, arrancam pedaços da minha pele, dizem que querem a minha alma. Fazem-se amigos de outras bestas mas mal uma vira costas é brutalmente morta, uma pedra sobre sua cabeça, esmagando-lhe assim o crânio, e se riem, enquanto vêm o corpo do falecido companheiro a contorcer-se com espasmos.
Tendo sair dali gatinhando, mas eles me puxam para o centro, para o seu circulo de malvadez, olho em volta e vejo almas como a minha, almas que desistiram de lutar, juristas, médicos, voluntários, professores, pessoas de saber e cultura, vejo mendigos que grande alma a serem descarnados de seus ossos, eles gritam e suplicam por misericórdia, mas as bestas se olham, não sabem que isso é palavra.
MORAL: oiço alguém a gritar, e as caras Kelsenistas das bestas ficam apáticas.
SOLIDARIADADE! Torna os mais perplexos.
Amor, paixão, carinho, respeito, bondade, cordialidade, forma palavras ditas em forma de força, tais palavras começavam a enfraquecer tais demónios. suas formas tornavam-se pouco a pouco mais humanas.
Contudo, a grande besta, que tem um dialecto próprio, que não tem ouvidos, que apenas sente o cheiro a sangue e a medo, logo se aproxima de forma brusca, saltando sobre todos os cadáveres expostos e pegando na sua foice aproximou-se de mim, olhou-me sem me ver e cortou-me minha cabeça, mas antes consegui dizer a minha última palavra: Humildade!!

Friday, November 15, 2013

Por ti eu o farei

Tu, meu amigo, meu ente querido, me imploras pela libertação de tal dor angustiante que te corrói e destrói a tua essência de ser. Seria eu capaz de o fazer, de acartar todas as consequências morais, a minha consciência, a jurisdição, o código penal?
Seria eu capaz de matar alguém como forma de libertar a sua alma? seria eu capaz, ao ponto de por de parte o meu egoísmo perante tal vida tão imoralmente vivida, tão indigna-mente sofrida?
Para muitos, e respeito tal doutrina, são contra tal acto. A eutanásia é má, vil e vai contra o princípio da vida. Mas será? onde temos nós a verdadeira resposta, a certa? não existe, mas devi,a pois mentes tão ambíguas ai se divergem.
Seria eu capaz de por termo a uma dor angustiante, seria eu capaz de calar um respirar eternamente a pedido genuíno.
Olho para os seus olhos e vejo a dor, o desespero, vejo a ânsia pela morte já anunciada. Posso ser eu um acelerador da morte, um anjo negro que trás conforto e anestesia?
Juridicamente não posso, socialmente praticado mas de forma silenciosa e oculta.
Como posso ser eu capaz de deixar vida moribunda vaguear apenas porque não houve morte cerebral, sua alma pede e implora por libertação, a suas palavras pedem voz mas não a têm. Como posso eu me afastar sem libertar tal alma, fechar meus olhos e me sentir calma, tranquila e bem comigo mesmo.
Como posso eu não fazer algo que espero em caso de infortúnio ter quem me o faça.
Peço que me sejam capazes de silenciar o coração quando a mente começar a ficar perdida, quando meu raciocínio for inútil.
Não quero ser um morto com vida, não quero ser um respirar inválido, um fardo sofrido para os meus, que com amor, mas grande dor, se encontram presos num vegetal, não podem viver.
Sou a favor da vida, a vida vivida em plenitude, onde existem dissabores, amarguras, mas também sorrisos, esperança e lágrimas brilhantes que uma anedota me fez libertar.
Sim eu serei capaz, pelo menos o espero, se não o fizer é porque sou uma cobarde e egoísta, que não farei algo que também eu quero que me pratiquem.
Que me abafem com uma almofada, que me seja dado um cocktail de comprimidos, que me seja dado um tiro na cabeça. que com duas mãos apertem minha traqueia. Não importa a forma, desde que me libertem de tal angustia que me faz implorar pela minha própria tortura. Que me impeçam de uma grande e mortífera dor futura, que impossibilitem o meu definhar por entre os vivos com vida.
Compreendo quem  seja contra, mas eu não posso ser contra algo que quero que seja um direito meu. Por fim à minha própria vida quando a mesma, perante os meus olhos já não é mais digna.

Tuesday, November 12, 2013

Alma de fadista

Queria ser poeta, queria ser artista, queria poder pintar um quadro, dançar desenfreadamente, ter jeito com as palavras, com os gestos e acções.
Ser boa em prosa, boa em línguas, e saber recitar, cantar, encantar.
Queria exprimir todo este sentimento, toda esta dor, angústia que me apoquenta, que me adormece e só não me faz esquecer de respirar.
Alma de fadista, essência de poeta moribundo, de Bocage atormentado, romantista e desgovernada. Assim sou eu, matéria Lusa, tão de Alfama, Moraria, Restelo e Ajuda.
Atormentada, assustada, conformada e desanimada. Que se passa com este pedaço de carne, com este pedaço de matéria, este pedaço de gente. Este qualquer coisa.
Não me sinto gente, odeio a gente, odeio o pensamento egoísta, o espírito maquiavélico de que os fins justificam os bens, o falso costume, que apesar der ser uma pratica reiterada na sociedade não é esta moralmente nem eticamente viável. 
Odeio os sorrisos falso, as farsas vomitadas e redigidas em hipócritas dedicatórias.
Odeio likes indevidamente gostados, de simples conformação da sociedade perdida e desfragmentada.
Meu corpo se quer desmaterializar, evaporar e assim se se sucumbir nos átomos do ar. Quero partir deixar este mundo tão desumano, tão cheio de mentira, tão vazio de verdades, de pureza e sentimento.
Saudades de algo que nunca vive, de algo que nunca vou viver, de algo que penso nunca vir a existir. A pureza nas palavras, a sinceridade dos actos, o amor incondicional pela verdade, pelo direito e pela justiça.
Que venha Deus e que mate tudo e todos, que faça chover durante 40 dias e 40 noites. Mas não salve alma humana, pois essa a Hades pertence, deixou-se vender por um punhado de poder. 
Condenasse o prazer, a luxuria do sexo, mas não a gula, a sede de vis, a inveja nem a cobiça.
Vós sois tão mau, vós sois tão ingrato perante tal dádiva que é a vida e a capacidade de a pensar.
Vós sae a vergonha de Zeus, a vergonha de Ala, a vergonha de Shivas.
Por vossa culpa os Maias puseram  termo ao calendário, apagando assim o seu vinculo com o futuro. Vós sois a culpa de todo o mal, a desgraça do animal, da natureza do planeta.

Vós sois assassino de Vossa própria mãe.

Friday, November 8, 2013

No elevador me elevas aos céus!!!

Olhava-te com desejo, de forma sumida e dissimulada. Não queria que soubessem do meu ardente desejo por ti.
Mordia a caneta, ups, parti a mesma com distracção. Magoei meu lábio, perde sangue, lambo o mesmo enquanto me perco nos teus movimentos, nos teus ensinamentos, explicações ou puros devaneios.
Folho o livro e perco-me nas tuas palavras em vês nos dizeres confusos de manuais e doutrinas.
Passaram 50 minutos, passou o devaneio do meu pensamento, acaba a conversa silenciosa entre meu corpo com o teu.
Pego na minha mala, levanto-me, ajeito o justo e apertado vestido de decote quadrado que apenas deixa espreitar o meu busto agora tão empinado de forma incontrolável, apenas reflecte o meu desapoquento.
Sou chamada, chamada por quem nunca pensei.
 - Peço desculpa por não ter respondido ao seu email, mas se me deixar explicar agora. 
- Sim claro, com todo o gosto e agradeço.
Não enviei nenhum email, podia ter corrigido o pequeno lapso, mas não me apeteceu, seria de mau tom o fazer em frente de todas aquelas pessoas.
O meu vestido preto acetinado logo se tornou mais imperial, meus sapatos de verniz, de sola grena, logo se tornaram mais altos, meu rabo mais roliço e empinado, meus busto firme e saliente, minha cintura vesperiana dançava enquanto caminhava, alias, deslizava, serpenteava, meu olhar era felino, minhas mãos dançavam.
Toda eu expunha a minha enorme vontade.
As palavras não foram muito trocadas, mas os olhares diziam tudo, frenéticos diziam a vontade que tinha de lhe arrancar a gravata, de puxar sua camisa sacando todos os botões.
Suas mãos queriam puxar o fecho prateado que segurava aquele estreito pedaço de tecido.  
Caminhei a seu lado, com postura, com ar determinado, quando em mim emanava um enorme medo e nervosismo, sentia-me histérica, mas olhava de lado com um pequeno e discreto sorriso.
Entrei no seu carro e sem falar deixei-me levar, queria saber no que ia dar, por momentos pensei: e se ele me quer matar? que me foda primeiro!
E se ele me quer bater? que o faça com jeito para não deixar muita marca!
E se ele me largar na mata? que despeje o corpo completamente possuído e usado, coberto com o seu sémen!
Se ele for daqueles que amarra? que também diga palavrões!
Moral da história, o que eu realmente queria era ser comida por aquele senhor tão bem parecido e intelectualmente avantajado.
Consegui ver na sua expressão que também ele se encontrava agitado. Talvez pensasse o mesmo. Ri-me, gargalhada estridente, cai meu corpo para a frente da piada de meu pensamento.
- Porque te ris?
- Por nada, só estava  a imaginar.
- O quê? 
- Que talvez penses o mesmo que eu neste momento.
- o quê? que te quero comer como se não houvesse amanha?!
- Sim também, mas recordo que nem um beijo foi dado, logo pode suscitar a desilusão deste fugaz encontro.
- Duvido, tuas ancas não mentem, tua boca não emite lacunas. teu olhar não é enganador.
Parámos o carro, o cavalheiro saiu, deu a volta e abriu a porta para eu poder sair, deu-me sua mão para me amparar e logo ai encostou-me  a seu corpo e senti o sabor dos seus lábios. foi um simples tocar, mas tão intenso, que me cortou a respiração. com elegância me tocou, minha cintura era apertada, meu pescoço seguro e amparado, seu corpo mantinha firme minhas pernas tremulas.
De mãos dadas seguimos para o prédio, esperávamos o elevador, uma senhora, a vizinha do 2º Esq, tinha acabado de passear seu cachorro devidamente seguro. Entramos no elevador, acompanhados pela nobre senhora, sentia meu rabo ser apalpado, alias senti uma palmada, que logo disfarcei o salto com uma tosse.
já estávamos no 2º andar, a porta abriu, a sra saiu, a porta fechou e os corpos logo ficaram loucos. encostei-o a parede e logo comecei com a minha brincadeira atrás pensada. carreguei no stop, desliguei a sirene, tirei-lhe o casaco, arranquei a sua gravata enquanto meus lábios... não, meus lábios não  beijavam, isso seria demasiado óbvio, ele apenas sentia a minha respiração sobre a sua pele. sentia o meu tacto sobre o seu corpo, as minhas unhas a cravarem sua carne. 
Quis sentir a sua força, vis, potência, poder prever o meu futuro orgasmico. meu corpo dança sobre o seu, balançava, brincava à medida que a sua paciência se ia esgotando. Só pensava no custo beneficio de tal acto insano, só pensava no quanto me ia saber bem, no quanto já me estava agradar.
- Acho melhor ficarmos por aqui. é perigoso e já sei que o mais certo é gostar.
Desactivei o stop, concertei o vestido, passei as mãos pelo meus cabelo voltada para a porta, ignorando o meu companheiro de elevador.
Mas o stop logo foi activado. Meu corpo agarrado, sentia os seus dentes sobre o meu despido pescoço. Sentia os meus seios apertados, minha anca mexida, minha intimidade usada. O vestido logo se desapertou, meu tronco se encontrava exposto, meu umbigo, minha anca, minhas costelas, minhas... sim minhas mamas encontravam-se expostas, mas não livres, seus dedos se divertiam acariciando meus mamilos hirtos, passou sua mãos pela minha boca, para sentir o quente da mesma e amolecer mais suas mãos. Logo se decidiu por zonas baixas e assim sentir outros calores, outros fervores. Estava completamente molhada, não tinha como controlar a excitação. ele esboçou um sorriso matreiro ao confirmar o grau do meu estado, ao confirmar a minha febre, logo me encostou contra a parede, outrora minha aliada, senti o frio do metal sobre meu busto, sua mão agarrava meu pescoço,rapidamente decidiu puxar meus cabelos com força, para assim poder sugar um pouco mais do meu sangue. Puxou minha traseira para ele, e assim senti todo o material que logo logo me penetraria, puxou minha tanga para baixo, quase rasgando, desapertou suas calças, e ai sim, senti o seu toque, a sua macieza e dureza sobre a minha pele. consegui tocar e assim massajar um pouco mais, ele não me podia comer assim, já, tão cedo. queria mais, mais jogo, queria mais brincadeira.
- Espera! deixa-me provar.
Meu olhar era hipnotizaste, profundo e sem alma, alma predadora, alma perdida e sedente de poder. Beijou-me com intensidade, sentia sua língua, sentia seus lábios fortes e macios. tocávamo-nos mutuamente, não conseguíamos largar o corpo do outro. Queria-me fundir, queria me perder naquele pecado, tão doce e salgado pecado. Seu corpo transpirava, emanava desejo, tesão, cheiro a sexo.
Alguém fala do outro lado. alguém vem para nos auxiliar.
- Porquê mundo cruel, porque não nos deixas desfrutar deste pecaminoso momento, porque não  podemos nós fundir nossos corpos!?!
Apreçamo-nos a vestir e arranjar.
As portas se abrem e finjo sofrer de fobias e afins.
Chego ao seu apartamento e admiro o seu espaço, vejo livros, revistas cientificas, objectos estranhos e sudoku.
Casa com cheiro de homem, pouca mobília, cortinas brancas, almofadas, mas poucas, sofá em couro, tapete escuro, mesa de vidro, quatro cadeiras, com livros e mais livros, kitchenette limpa por falta de uso. Casa de banho simples, sem cremes, toalha sobre a barra, tampo de sanita levantado. Quarto amplo, cama longa de nogueira estilo moderno simples, poltrona no canto, cómoda longa sem grandes acessórios, closet simples e de portas escancaradas. 
Estava admirar o seu espaço, por momentos, apesar de sequiosa de sexo queria conhecer mais o seu espaço, saber algo de si, ver seus DVDs, ver suas músicas.
Mas paulatinamente desloquei-me para sua cama, despi o vestido, caiu sobre os meus pés, deixando assim todo o meu corpo exposto a si e à sua vontade, aproximou-se como se de um cão vadio se tratasse, começou a medo, mas mal lhe veio o cheiro a comida virou bicho. Mordia-me, agarrava-me com força, não percebia se o afastava ou se o agarrava, se o afugentava ou puxava. perdeu-se em beijos pelo meu corpo, sentia-me arrepiada, suas mãos apesar de bruscas não me magoavam, ao invés, provocava-me arrepios. seus beijos tornaram-se cada vez mais baixos, mais centrais. minhas pernas se afastaram e logo me contorci, logo me exprimi de forma iletrada, sem idioma, sem fala, apenas sons ocos, sem sentido e sem verbo.
tornava-se inseparável tal prazer, angustiante. Pedia que parasse enquanto mordia um punhado de tecido, meus ritmos não tinham ritmo, meu corpo estava possuído. 
Logo quando subiu beijei-o de forma tão louca, tão animal que não a posso descrever, é me impossível exprimir a energia que percorria meu corpo, a vontade que me dominava, o não pensamento, o irracional acabara de se apoderar de mim, do meu fraco e vil corpo.
 pus-me sobre ele, despi-lhe o resto da camisa já rasgada, arranquei suas calças, mordia seu corpo lentamente, deixava-o saber onde estava minha língua e no que esta tocava.
Retirei o tecido que me impedia de ver o que mais ansiava, como estava hirto, como estava firme e pronto para ser apreciado. Brinquei um pouco, adoro desespero, adoro que me implorem: - Põe o na boca. 
Diverti-me, gozei, adoro ludismo. mas estava na hora, estava na hora de ser usada com toda a força e de forma macabra. Estava pronta para sofrer todas as consequências sobre o meu dolo.
Sentei-me sobre si, olhei-o com ar de safada e mais uma vez de forma vagarosa, desesperante para ele, penetrei-o bem fundo. 
A loucura instalou-se, a memoria apagada, os flash não são suficientes para recordar o momento, as dores do corpo algum sinal, as nódoas negras um presságio já vivido. a cama desfeita uma suspeita.
Senti o sol a bater no meu rosto, sentia-me nua mas quente, sentia um corpo sob o meu, olhei e lá estava ele, agora com postura de senhor, de doutor. Voltei a fechar os olhos e recuperei a energia de horas antes gasta.




Wednesday, November 6, 2013

Alvo humano

Caminha a mocita, mala de mão, saco das iguarias, saia rodada e camisa com mangas de balão.
Caminhava contente pela feira de carroçais e algodão doce. Como se divertia  a passar por ali enquanto seguia para sua casa. Ia fazer uma bela e cheirosa tarte de maça e canela para o seu belo namorado.
Mas qual não é o espanto de todos, menos da moça, de se ouvir um estoiro, som seco, abafado e estridente que silenciou todo o parque.
Olhou-se em redor pensado que alguma maquina se tinha estoirado, mas tal não era. Os movimentos ficaram lentos, o silencio apoderou-se de todo o espaço, de todo o universo. Rodopiava sem avançar, nada se passava de forma rápida e acelerada. os olhos focam-se na moça, pobre moça.
Seu corpo tombava lentamente, sua expressão era sorridente, de sua cabeça se viam cores, pensamentos, cheiros e sons.
Toda a sua mente se evaporava pelo ar, toda a sua essência se esvaia nos átomos de oxigénio. Ouviam-se as sua gargalhadas de pequena enquanto brincava com seu pai na praia, ouvia-se seu choro pelo 1º amor, ouvia-se os cochichos de adolescentes encantadas por seu professor. Sentia-se o cheiro da torta de cenoura feita por sua mãe, sentia-se a brisa do lago onde pescava com seu avô.
Via-se o seu primeiro beijo, o seu primeiro verdadeiro amor, via-se o seu cachorro a correr pela rua, via-se o vento levantar o seu vestido, a brincadeira com os amigos, os copos de champanhe a tocar acompanhados por uma lareira acesa. Sentia-se o quente do cobertor, a macieza da manta e casaco de caxemira.
Seu corpo tombava já sem vida, mas de sua mente saia um mundo infindável de histórias. Uma vida vivida cheia de alegria, uma vida já acabada.
Seu olhar aberto, seu sorriso magistroso, enchiam todo o parque, todos apontavam incrédulos com tal chacina, os pequenos deixavam cair seus gelados, senhoras, mães de família, tapavam os olhos dos seu pequenos. Senhores de idade viam a morte perto, mas não a sua.
seu corpo finalmente caiu sobre um punhado de sangue, jorrava sobre sua cabeça o resto de vida, via-se jogos de dado, beliscões amigáveis, pequenos furtos na cozinha da tia Ermelinda.
De seu saco caiam maças grenas, paus de canela, farinha ensacada, açúcar e manteiga.
De sua mala ouvia-se um toque, que ninguém ousava a atender.
Um pequeno de 5 anos teve coragem, largou-se de sua mãe e procurou de atender e dar a triste nova.
Quem ligava era seu namorado, "MyLove". - Estou, disse um voz criaçada. A menina levou um tiro e morreu, está aqui, mas estou a ver o seu ultimo pensamento, acho que é o senhor.


Do outro lado da moça, de onde saiu o tiro, estava um senhor incrédulo, com pano de camurça limpava espingarda para o jogo de atira ao alvo.

Mas o alvo foi outro, pobre moça, com ela foi o corpo e sua alma se elevou aos ceus para que todos a pudessem conhecer.




Monday, November 4, 2013

Saudades de ser ouvida

Por vezes cansada, destoada, desanimada, desconsolada.
Sem tema, sem conversa, sem vontade de tentar.
Falta de inteligência, de curiosidades, de factos e história. De noticias, de crise, de resoluções de conversas empíricas. Filosofias, sociologia, economia e religião e moral.
Algo interessante, algo fascinante, algum humor mordas, algo picante com inteligências, desenvolver o intelecto, procurar palavras, jogar sudoku, trocar formulas, partilhar pensamentos, teorias da conspiração das Américas e doutrinas jurídicas. Legalizações, o que que implica, o que se ganha, o que se perde. Falta de copos, conversas sem nexo, piadas difíceis e tão fáceis de se dizer.
Conversa, troca de sentimentos, falar e saber que sou verdadeiramente ouvida.

É disso que tenho mais falta.

Friday, November 1, 2013

Hades, não hás de voltar

Finalmente deixas-te meu corpo, meu  tormento, Hades que me tentou envenenar com o cálice da sedução. sentia-me tentada, cada vez mais próxima de saciar a minha lacuna desgovernada, minha inocente depravação, fizeste promessas em silêncio, assinamos contrato enjeitado .
Sabia que tal golo me matava, mas queria mais, não te conseguia deixar. Sentia-me hipnotizadamente agarrada, sentia-me a ferver, tinha medo, mas esse medo dava-me vida, sentia-me imobilizada, nervosa, agonizada, mas não deixava de ansiar pelo próximo encontro.
Tinha que parar, sentia-me a definhar, sentia-me estúpida, lacaia, uma simples plebeia no mundo dos patrícios, uma visita inconveniente, uma pessoa sem ius, uma pessoa sem vis, uma pessoa desejosa de intervenção divina.
- BASTA, já chega! Mando o cálice para o chão, afasto-te de mim e te repudio, demónio, serpente, anjo caído, seu Judas. - Deixa-me, não podes mais dominar meu mundo, não podes mais mexer na constitucionalidade de meu coração. Ele é feito de Direitos humanos, em prol de mim mesma, e só de mim, deixa os Direitos Fundamentais que invoca o bem estar da colectividade, meu coração não é um Estado, meu coração é uma fonte. Fonte que não pode ser desperdiçada por delírios juvenis, por platónicos sentimentos, por desperdícios de tempo, meu custo por beneficio, não meu custo oportunidade. Minha cruz marshalliana não pode ser alterada, meu ponto de equilíbrio não pode ser mexido. Meu ponto de vista tem de ser doutrinal, seguindo BGB, Napoleão e Seabra como referencia de marco histórico de meu coração.
Que regurgito  saem de meus dedos, que invocações inválidas são por mim projectadas.
Tiraste-me o tino, a respiração, a calmaria. Seduziste-me com as palavras, não só as faladas e acompanhadas por gestos e abanos, expressões e comentários, por pensamentos tão mal disfarçados.
Mas também pelas prosas invocadas em textos e papiros, por descrições impossíveis mas visíveis em meus olhos,  pelas antíteses tão similares, pelos devaneios, sonhos, fantasia, qui sait desabafos e paixões vividas.
Homem de paixão, de politicas e de um bom livro, que fascínio enganoso. que engano de meus olhos. ias-me matando, mas não te deixei.
Tive força para me esconder, tive força de não te enfrentar e assim deixar que teu ser, teu olhar se deixe de alimentar deste doce néctar que é a inocência estudantil.